quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Relativo à polémica no MoodlePT sobre a iniciativa dos computadores portáteis

Re: Portáteis
por João Sousa - Quinta, 30 Agosto 2007, 15:13

Meus caros:

Regressado de uma curta ausência para férias, deparo com mais de 600 mensagens de mail na minha caixa de correio e com este fórum mais vivo do que nunca.

Ainda bem - foi esse o meu propósito com uma mensagem provocadora de há algumas semanas atrás. O que é preciso é meter as pessoas a falar sobre os assuntos e rapidamente se percebem as coisas....quer dizer, percebe quem quer perceber... porque depois há as outras motivações que fazem com que alguns nunca queiram perceber.

Mas isso faz parte da diversidade da espécie humana e da nossa profissão - não há dois professores iguais e cada vez isso vai ser mais verdade: há os que têm net e os que não têm, há os que têm portáteis e os que não têm, há os da netcabo e os do SAPO ADSL, há os titulares e os outros, há os contratados e há os do quadro de escola e os do quadro de zona e sei lá mais o quê... até vai haver os que vão concorrer ao concurso do super-professor inventado pela ministra para ganharem os 5000 euros... (assim mais ou menos o que que ela paga por duas semanas de trabalho de uma recém licenciada que a esteja a apoiar lá no gabinete dela)

Portanto, diversidade é o que não falta entre nós. Não haverá por isso - como eu disse na minha mensagem de há muito tempo - professores que aproveitem esta "magnífica" oportunidade. Uns porque julgam que é mesmo bom negócio para eles, outros porque não sabem fazer contas, outros porque sabem fazer contas mas não se deram a esse trabalho e até outros que as fizeram e chegaram à conclusão que - para a situação deles - até vale a pena. Não tenhamos ilusões: com os ordenados na nossa classe, muitos não podem mesmo comprar um computador a pronto, mesmo que ele custe 499€!

Acabam por ter que comprar a prestações (dêm-lhes lá o nome que lhe queiram dar) mesmo sabendo que - tal como no carro e na casa e na máquina de lavar - no final vão ter que pagar mais por isso.

O meu propósito ao avivar esta discussão no seu início foi mesmo esse: o de ter o maior número possível de pessoas a debaterem o assunto, a informarem-se, a fazerem as suas contas e a perceberem que:

a) não lhes estão a oferecer nada. O que não pagam pelo computador vão pagar por causa da fidelização durante uma eternidade a uma ligação móvel de treta QUE NÃO É BANDA LARGA! tenham atenção ao limite de tráfego e à velocidade de ligação máxima anunciadas - a par da minha ligação pela Netcabo em casa eu sou cliente Kanguru desde o seu aparecimento e sei a frustração que é uma ligação 2G ou mesmo 3G (já o 3,5G é outra coisa, já medi velocidades da ordem dos 760 kbits e já tive em Abril deste ano 12 portáteis num curso europeu a funcionarem através da partilha de uma única ligação destas).

b) vão pagar mais por essa ligação móvel do que noutras configurações. As ligações por cabo e adsl estão a preços de saldo e são muito mais rápidas e adaptadas à realidade do professor que ainda não entrou nestas coisas das TIC: permitem a sua utilização em casa com a família, há pacotes associados à linha telefónica ; estão em casa, onde o professor acaba por fazer o seu trabalho de formação pessoal e de preparação de aulas, uma vez que na escola não tem habitualmente sequer espaço físico para isso.

c) vão financiar com a sua compra as despesas de material e de ligação que a entidade patronal deveria suportar. Não é muito ético o estado promover a compra por parte dos professores de computadores e ligações à internet para serem usadas por estes nas escolas (porque é que o nosso governo não 'oferece' antes computadores de secretária e ligações fixas para os professores usarem em casa?);

d) vão tomar parte numa clara manobra propagandística com fins políticos. No final, o que o público vai reter é que os professores vão receber computadores gratuitos (ou quase) para além de todos os outros benefícios de que já gozam: férias longas, poucas horas de aulas, etc.

E depois tenham é consciência que o que não fizerem por vocês mesmos ninguém vai fazer.

Porque, quanto ao "ano lectivo mais favorável do que foi o anterior para toda a comunidade educativa" bem podem ir tirando os cavalinhos da chuva... então não sabem que não há almoços grátis? ...é que ainda há muita carne agarrada ao osso da educação pública em Portugal...

Abraços
JC

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