sábado, 10 de setembro de 2005

A Ministra Reformista

1102a

Foram finalmente encontrados os culpados do estado calamitoso em que se encontra a educação em Portugal: são os professores!

Ao contrário do que qualquer observador menos bem informado poderia pensar, a culpa não é dos sucessivos (ir)responsáveis que têm ocupado a pasta da educação e que só têm aumentado a confusão reinante com a sua gritante falta de vocação.

Eu sei que os ministros e os secretários de estado são como os outros profissionais e que os há competentes, incompetentes e assim-assim. Estatisticamente falando, torna-se inevitável que ao longo dos anos tenham passado pela 5 de Outubro bons e maus dirigentes. Mas a pasta da Educação tem batido todos os recordes de desgoverno e recebido muito mais do que a quota de incompetência governativa que lhe cabia pelas leis da matemática... e eu (como a maioria dos portugueses, espero) fiquei convencido que tínhamos batido no fundo no último governo... com aquela senhora que, juntamente com a sua equipa, foi tirada não sei bem de dentro de que cartola...

Mas eis que o passado recente e o presente que estamos a viver me esclareceu finalmente que:

A) Não, ainda não pararam de desmantelar o Ensino Público! e,
B) Há ainda mais uns políticos de competência profissional duvidosa na calha do Ministério da Educação, e
C) Os culpados da actual situação são os professores, que não se estão a dedicar como deviam!

Essa malandragem, apesar de ser extremamente bem paga (estamos na cauda da Europa nisso também, claro, mas funciona sempre mandarmos destas acusações para o ar..), não está à altura das instruções de grande qualidade que jorram em abundância dos esforçados e inspirados serviços centrais.

Num país em que a baixa produtividade é generalizada, como não admirar aqueles que em meia década apenas conseguiram fazer uma revisão curricular por magistratura (ou seja, de dois em dois anos) e reinventar todo o conjunto de regras do Sistema Educativo de três em três meses? (Ainda mais se pensarmos que conseguiram fazer tudo isto sem saber ao certo quantas escolas ou professores ou alunos é que existem, o que eles estão a fazer e na ausência de qualquer tipo de plano ou estratégia de fundo.)

O mínimo que seria de esperar é que dirigentes tão inspirados fossem levados a sério, mas não... os professores fizeram todos os possíveis para os deixar ficar mal... e a prova acabada disso é que os alunos continuaram a ter más notas nos exames de matemática...

Ora, isto é imperdoável num país onde os Primeiros Ministros são ases a fazer de cabeça e em directo para as televisões, complicados cálculos com percentagens do PIB e os Ministros das Finanças não se enganam nas contas do Orçamento de Estado e os Governadores do Banco de Portugal acertam sempre nas somas dos estudos que lhes são encomendados.

Há pois que castigar essa malta que está a hipotecar o futuro do nosso país - mas temos que estabelecer prioridades, claro:

Assim, não é tão grave que continue a desorganização do sistema... desde que não se gaste muito dinheiro.... Ao fim ao cabo, os tipos que têm os putos no ensino público nem são conhecidos nem saiem nas revistas, de modo que não merecem que se gaste muito dinheiro com eles.

E a melhor maneira de desmontar o sistema é manter a sua desorganização e voltar o relógio do tempo um pouco para trás, para aí até 1973, e ver se os professores e os outros fogem.

Assim inicia-se um processo que só tem vantagens: poupa-se um dinheirão nos ordenados daqueles que se pirarem e depois privatizam-se as escolas que entretanto deixaram de funcionar e ainda se ganham uns cobres neste processo, além de se incentivar a iniciativa privada (e criar umas oportunidades de negócio para os amigos, claro).

As escolas que resistirem podem até ser loteadas, pois muitos dos terrenos onde estão construídas dão uns lotes de apartamentos fixes.

Depois, quando não houver escolas públicas gratuitas, o Estado dá uns cheques-educação para os pais pagarem a educação dos miúdos nos colégios... mas claro, pelo valor que é dado só podem pagar os piorzitos... de modo que os filhos do pessoal da massa vão ser daqueles que irão ter acesso ao ensino de qualidade e assim têm mais chances de arranjar os bons empregos que merecem.

É só vantagens, não é? E é tão simples de fazer... E como todos estão tão empenhados em fazê-lo: Cristão-democratas do PP, Social-democratas do PSD e Xuxalistas do PS...

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